Pesquisa sobre efeito dos cupins nas mudanças climáticas é destaque de capa da revista Science
Trabalho realizado com a parceria de diversas instituições do mundo, incluindo a UFLA, mostra que o cupim é muito mais afetado por altas temperaturas do que os microrganismos
O aquecimento global e a concentração de carbono na atmosfera têm sido objeto de diversas pesquisas no mundo. Recentemente, foi publicado o artigo “Termite sensitivity to temperature affects global wood decay rates” (“A sensibilidade dos cupins à temperatura afeta as taxas globais de deterioração da madeira”) na revista Science, o periódico mais importante de ciências do mundo, com um fator de impacto 63.714. O estudo mostra que a elevação das temperaturas aumenta, de forma surpreendente, o papel dos cupins na decomposição global da madeira. Assim, o efeito desse grupo de insetos precisa ser considerado nas projeções de mudanças climáticas.
A pesquisa, liderada pela bióloga Amy Zanne, da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, é fruto de uma parceria com 60 instituições do globo, incluindo a Universidade Federal de Lavras (UFLA). Mais de noventa pesquisadores espalhados por diversos países participaram do trabalho, que foi artigo de capa do volume 377 do periódico.
De acordo com o professor do Instituto de Ciências Naturais (ICN) da UFLA Eduardo van den Berg, o papel dos cupins na decomposição de madeira para a liberação de carbono não era conhecido. “Com o aumento das temperaturas, aumenta a ação dos microrganismos e a decomposição da madeira, conduzindo mais carbono para a atmosfera. Nós já sabíamos disso, mas que esse efeito da temperatura é muito maior sobre o cupim, isso é algo inédito. Ou seja, os modelos que previam decomposição de madeira com aumento do aquecimento global vão precisar ser recalibrados para entrar com essa variável, o cupim, principalmente nas áreas tropicais”, explica.
Além do docente, fazem parte da pesquisa os professores da Escola de Ciências Agrárias (Esal) Marco Aurélio Leite Fontes e Dulcinéia de Carvalho, o doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais Aloysio Moura e os egressos Ravi Mariano, Tainá Cirne-Silva, Lucas Rocha, Flávia Freire Siqueira e Mateus Silva. A UFLA ainda teve como parceiros nos experimentos para fornecimento e desdobramento das madeiras utilizadas: Generci Assis Neves, da Resineves Agroflorestal e Ricardo Marques Barreiros, docente da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus de Itapeva.
Para o estudo, que teve início em 2017, os pesquisadores avaliaram o papel dos cupins em comparação ao dos microrganismos em variadas condições de temperatura e umidade de 133 locais, de 20 países e seis continentes do mundo. “Houve uma padronização da coleta de dados, coleta e envio de material para os Estados Unidos, um trabalho minucioso”, comenta o professor Marco Aurélio Leite Fontes.
Os térmitas ou cupins, como são popularmente conhecidos, possuem uma importância fundamental como promotores da decomposição da madeira morta nos ecossistemas tropicais, e o artigo mostrou que a importância deles aumenta em áreas onde as secas são mais pronunciadas. A pesquisa internacional mostrou que o aumento da temperatura acelera muito mais a decomposição da madeira pelos cupins do que pelos microrganismos. “É algo cíclico: aumenta a temperatura, aumenta a ação do cupim, pois ele é mais sensível à temperatura. Dessa forma, eleva a decomposição da madeira e, consequentemente, a emissão de gás carbônico, que vai para a atmosfera e aumenta o efeito estufa, reiniciando esse ciclo. Para as condições tropicais, com a inclusão dos cupins, os efeitos para a decomposição global de madeira são muito sérios ”, esclarece.
Impacto dos resultados
De acordo com os pesquisadores, embora muito tenha sido falado sobre o aquecimento global, ainda são necessárias ações para que ele de fato possa ser minimizado. “Nossos resultados mostram que a urgência é mais grave do que imaginávamos. Estamos na década da restauração; então, agora é agir, recuperando carbono com o plantio de árvores, restabelecendo os ecossistemas como um todo”, finaliza o professor Marco Aurélio.
Confira a entrevista dos professores participantes do estudo na Rádio Universitária.