Pesquisa da UFLA destaca os impactos ecológicos causados pelas mudanças nas paisagens florestais da Amazônia
Um estudo sobre as mudanças na paisagem da Amazônia, publicado recentemente na “Proceedings of the National Academy of Sciences –PNAS (Academia Nacional de Ciências do Estados Unidos), destacou os impactos ecológicos e também as oportunidades para ações positivas da floresta tropical mais biodiversa do mundo.
A pesquisa internacional "Linking land-use and land-cover transitions to their ecological impact in the Amazon" ("Associando as transições de uso e cobertura da terra ao seu impacto ecológico na Amazônia") foi liderada por Cássio Alencar Nunes e contou com a participação do professor Jos Barlow, ambos do Instituto de Ciências Naturais da Universidade Federal de Lavras (UFLA), de membros do Departamento de Ecologia e Conservação e de pesquisadores da Lancaster University do Reino Unido. Eles examinaram os impactos ecológicos causados pelas mudanças nas paisagens florestais em duas regiões do estado do Pará – Santarém e Paragominas.
O estudo apontou que o desmatamento para pastagens foi a transição mais prevalente e de alto impacto na Amazônia brasileira, embora outras transições também tenham causado a redução na biodiversidade e nos estoques de carbono, além de terem alterado as propriedades do solo. “As modificações incluem desmatamento e degradação de florestas primárias, por exemplo, através de corte seletivo e fogo; mas até mesmo as paisagens desmatadas estão mudando à medida que o abandono das terras agrícolas leva à regeneração das florestas secundárias. Como resultado, muitas paisagens tropicais hoje são um mosaico de usos do solo não florestais, florestas secundárias regenerando e florestas primárias degradadas”, explica Cássio.
Para a pesquisa, foram coletados dados em 310 locais. Os pesquisadores focaram em como as mudanças afetam a biodiversidade, examinando mais de 2.000 espécies de árvores, cipós, aves e insetos. Eles também avaliaram os estoques de carbono e as propriedades do solo. Também foram utilizados dados publicados sobre o quão rápido a paisagem mudou na última década no período de 2006 a 2019.
Os resultados mostram que as transições de florestas primárias e secundárias para pastagens por meio do desmatamento somaram 24 mil km² por ano, sendo que a riqueza de espécies de quase todos os grupos de biodiversidade diminuiu entre 18% e 100% nos locais em que as florestas primárias e secundárias foram convertidas para pastagens e para agricultura mecanizada. As transições de floresta para agricultura mecanizada tiveram o maior impacto ecológico, mas ocorreram menos frequentemente do que as conversões de floresta para pastagens. “O desmatamento de florestas primárias para criação de pastagens é a mudança de uso do solo mais prejudicial na Amazônia Brasileira; isso ressalta a importância crítica e urgente do combate ao desmatamento, que vem aumentando nos últimos anos”, comenta o pesquisador.
Em contrapartida, o estudo também revelou a importância de proteger as florestas secundárias e permitir que elas amadureçam. Os pesquisadores notaram que a diversidade de árvores grandes em florestas secundárias dobrou e a de árvores pequenas aumentou em 55 % quando essas florestas atingiram mais de 20 anos, trazendo ganhos de biodiversidade e armazenamento de carbono.
Os pesquisadores também descobriram que a mudança entre os tipos de agricultura e de pastagem de gado para agricultura mecanizada mais intensiva diminui a biodiversidade. A diversidade de formigas e pássaros, por exemplo, diminuiu em 30 % e 59 %, respectivamente. “Essas são descobertas importantes, pois mostram que há uma infinidade de ações que podem ser tomadas para proteger e melhorar a ecologia da Amazônia. Nossa análise ajuda a definir e priorizar as ações locais e regionais necessárias para estimular uma Amazônia melhor”, destaca Cássio.
O professor de Ciências da Conservação Jos Barlow lembra que esse estudo tem outras implicações para a conservação e formulação de políticas públicas. “Nossos resultados enfatizam mais uma vez a importância de combater o desmatamento, bem como os benefícios adicionais de evitar a degradação e aumentar a permanência das florestas secundárias. No entanto, alcançar isso exigirá transformar a maneira como a Amazônia é gerenciada atualmente, incluindo uma integração muito maior entre ciência, política e práticas locais. Nós esperamos que a biodiversidade possa ser incluída nas ações de mitigação de mudanças climáticas e que isso possa ser enfatizado na próxima COP15 de Biodiversidade”, completou.