Pesquisa sobre leishmaniose visceral canina alerta para resultados falso-negativos em cães na região de Lavras
Diferentes técnicas para detecção da infecção foram testadas e resultado é preocupante.
Uma dissertação do programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Lavras, realizada em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, avaliou o desempenho de diferentes técnicas utilizadas para o diagnóstico da Leishmaniose Visceral Canina. A infecção ocorre por meio da picada de insetos conhecidos popularmente como mosquito-palha, polvinha, cangalhinha, asa-dura ou birigui. Ao picar cães infectados, as fêmeas do inseto podem adquirir o parasito, o protozoário , causador da Leishmaniose Visceral e transmiti-lo a outros cães ou a humanos quando picar para se alimentar novamente.
A Leishmaniose Visceral ou Calazar é considerada uma doença de grande importância em saúde pública em todo o mundo e tem aumentado sua incidência nas últimas décadas nas áreas urbanas brasileiras. O Ministério da Saúde recomenda um teste rápido feito em campo para a triagem de animais infectados, o chamado DPP (Dual Path Plataform), cujo resultado fica pronto em cerca de 15 minutos. Caso seja positivo, é recomendado um segundo exame com o sangue do animal: o ensaio imunoenzimático como teste confirmatório.
Na pesquisa desenvolvida na UFLA, “foram avaliados três diferentes testes rápidos imunocromatográficos, dentre eles o teste preconizado pelo Ministério da Saúde para utilização em inquérito epidemiológico. Também foi analisada uma técnica imunoenzimática, e uma técnica molecular, a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) com amostra de medula óssea e swab conjuntival, e o parasitológico direto da medula óssea”, explica a farmacêutica-bioquímica Carolina Novato Gondim, responsável pelo estudo.
De acordo com Carolina, os exames foram realizados em 52 cães segregados em grupos com ausência e presença de sintomas clínicos da Leishmaniose Visceral Canina. Os resultados mostraram que mais de 25% dos cães soronegativos estão, na realidade, infectados e que os testes sorológicos como o DPP (aquele usado pelos agentes nas visitas domiciliares) apresentaram resultados insatisfatórios de sensibilidade nos cães sem sinais clínicos, para serem enquadrados como testes de triagem. Isso significa que, de acordo com a pesquisa, muitos cães que recebem o resultado negativo, na verdade, podem estar infectados. Sendo, dessa forma, importante o acompanhamento permanente do animal por um médico veterinário e, se possível, a realização de outros exames mais sensíveis.
A pesquisa afirma que o método de PCR com “swab” conjuntival apresentou elevados valores de sensibilidade. “Nossa pesquisa sugere que a PCR de swab conjuntival possa ser utilizada principalmente em animais sem sinais clínicos, lembrando que a coleta para esse tipo de exame não é invasiva e é bem simples de ser realizada, inclusive em campo, utilizando uma amostra extraída da pálpebra inferior do cão que, depois de coletada, é enviada ao laboratório, diz Carolina.
Segundo a professora Joziana Muniz de Paiva Barçante, orientadora do projeto, desde 2013, a UFLA tem realizado diversos estudos sobre a Leishmaniose em parceria com a Vigilância Ambiental e Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde de Lavras e também em acordo com a Secretaria Regional de Saúde de Varginha.
O intuito é implementar ações de combate à doença no município, já que Lavras é considerada uma área de transmissão recente, devido aos casos registrados em humanos e ao alto número de cães infectados. “A intenção é que a Universidade possa auxiliar na elaboração de programas e em ações realizadas pela vigilância. Com essas pesquisas, apresentamos os resultados aos órgãos competentes e contribuímos para melhorar o entendimento em relação à leishmaniose canina, à leishmaniose humana e ao controle do vetor.”
Conforme o Ministério da Saúde, a leishmaniose visceral é considerada endêmica em 76 países. Dos países da América Latina, o Brasil é responsável por 90% dos casos, com uma média anual de cerca de 3.500 casos registrados em humanos.
Reportagem: Karina Mascarenhas, jornalista - bolsista Dcom/Fapemig
Edição do Vídeo: Rafael de Paiva - estagiário Dcom/UFLA
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - Fapemig.