Pesquisadores indicam a criação de parques urbanos em Lavras para a recuperação de comunidades de peixes
Os impactos da urbanização aos ambientes naturais são inúmeros e vêm aumentando com o crescimento da população, mesmo em cidades de médio porte, como Lavras. Nesse contexto, pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) sugerem a criação de parques urbanos para a recuperação de comunidades de peixes em riachos do município. Esses locais também podem permitir a reabilitação e conservação da mata ciliar, além de ser mais uma opção de lazer para os lavrenses.
O estudo da pesquisadora Lorenna Campos Cruz e do professor Paulo dos Santos Pompeu, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada (PPGECO/UFLA), analisou as comunidades de peixes em riachos localizados nas áreas urbanas da bacia do Ribeirão Vermelho. “O Ribeirão Vermelho é o principal canal que corre pela cidade, e os principais cursos d’água de sua bacia se encontram no perímetro urbano de Lavras”, explica Lorenna.
Foram analisados 16 riachos que compõem esse percurso, como por exemplo, o Córrego do Centenário e riachos dentro da UFLA. Os pesquisadores coletaram 13 espécies de peixes, sendo uma delas uma espécie exótica conhecida popularmente como “barrigudinho” (Poecilia reticulata). Trazida de outro país e introduzida no Brasil, ela domina a comunidade de peixes de Lavras.
Os pesquisadores também identificaram que a vegetação ripária, aquela que ocorre em torno do curso d’água, é um fator muito importante para a manutenção e estrutura das comunidades de peixes. “Quanto mais vegetação tiver no entorno desses riachos, maior a chance de preservação dessas espécies. Mesmo aquele lote vago, aquela praça que provêm alguma proteção para o riacho é muito importante, pois aumenta a chance de ocorrerem mais espécies de peixes ali”, destaca o professor Paulo Pompeu.
Assim, a partir de um diagnóstico sobre a funcionalidade dos parques foram sugeridas áreas prioritárias. Os critérios incluem lugares com maior riqueza de espécies de peixes e o aproveitamento de áreas verdes já existentes, utilizadas pela população. Assim, o local mais indicado pelos pesquisadores para a criação desses parques urbanos em Lavras é a UFLA.
Além de atuar como área de lazer da cidade e possibilitar a recolonização de espécies de peixes, os pesquisadores acreditam que a integração e criação dessas áreas possa auxiliar no processo de escoamento e prevenções de inundações. “Ao invés de ficar contendo cheias e inundações, se conseguíssemos preveni-las, seria algo muito positivo para as pessoas que moram próximo dessas localidades. Algo também relevante para a economia, pois há um investimento alto para sanar esses problemas, e ainda para o ecológico, visto que a preservação desses lugares é muito importante para o ecossistema e as espécies que estão ali”, ressalta a pesquisadora.
Outro ponto importante para a preservação das espécies de peixes nos riachos urbanos está relacionado à canalização. Se existe um trecho ou uma avenida que passa por cima do riacho, isso vai diminuir muito a chance de ter mais espécies de peixe naquele local. Como a mudança de pontes ou residências seria algo mais complexo de realizar, o estudo indica estratégias para diminuir os impactos que a urbanização poderia causar aos seres vivos.
Importância das espécies de peixes para o meio ambiente
A diversidade de peixes de pequeno porte, encontrados em riachos, é extremamente elevada e acaba passando despercebida por grande parte da população. Esses peixes apresentam uma grande dependência da vegetação ao redor, tanto para a obtenção de alimentos, como insetos e plantas que caem na água, quanto para obtenção de abrigo, fornecido pelas folhas, galhos e troncos. O conhecimento dessas espécies e das suas relações com o ambiente, portanto, trazem uma ideia de como podem ser afetados por interferências externas e o que pode ser feito para reduzir esses impactos.
Além disso, os peixes são importantes na estruturação e funcionamento dos ecossistemas, em diversos níveis da cadeia alimentar, desde detritívoros (consomem matéria orgânica) e consumidores primários (se alimentam de plantas e algas) até predadores de topo (consomem outros peixes), muitas vezes como espécies dominantes. Dessa forma, a presença de peixes afeta também a abundância, a distribuição e a presença de algas, zooplâncton e invertebrados, por exemplo.
Reportagem: Greicielle dos Santos - bolsista Dcom/Fapemig
Edição do vídeo: Maik Ferreira - estagiário Dcom/UFLA
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - Fapemig.