Pesquisa analisa a diferença da pessoa autista no espaço escolar
Quando Juliana Graziella Martins Guimarães ingressou na escola, aos quatro anos de idade, surgiram os primeiros sinais de que ela percebia o mundo de outra forma.
A preferência em brincar longe das crianças, a grande fixação por objetos giratórios, o medo de bolas e brinquedos de arremessar, a aversão a barulho e a que lhe encostassem ou tocassem não eram considerados “normais” para alguém de sua idade.
Muitas vezes interpretadas como traços de "antipatia", as diferenças eram indícios de autismo, transtorno de neurodesenvolvimento que compromete habilidades de interação social e comunicação e produz comportamentos motores e visuais repetitivos e automáticos.
As primeiras suspeitas a esse respeito surgiram quando Juliana tinha oito anos de idade, mas a família relutou em aceitar o diagnóstico, por considerá-lo exagerado.
A confirmação veio aos 19 anos, com a intensificação dos sinais clínicos e a inclusão da Síndrome de Asperger nos compêndios médicos, como um transtorno autista de grau leve.
O despreparo do ambiente escolar para acolher estudantes que não se enquadram em um comportamento considerado padrão foi fonte de incompreensão e muito sofrimento para Juliana. A escassez de estudos acadêmicos sobre o tema para orientar a formação docente motivou-a a trabalhá-lo em sua pesquisa de mestrado, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Educação da UFLA.
A dissertação investiga as interações de autistas com outros sujeitos no espaço escolar, baseando-se nas histórias de vida de sete pessoas com mais de 18 anos diagnosticadas com autismo de grau leve.
As experiências desses jovens adultos são o fio condutor do trabalho, que problematiza termos já usados para se referir às pessoas com deficiência (incapaz, excepcional etc), estereótipos sobre os autistas (como o nerd antissocial) e questões relacionadas ao gênero e à sexualidade.
“Há um discurso curricular de enquadramento que dita modos de ser e de se comportar no tempo e no espaço das instituições. Esses discursos disciplinam corpos, docilizando-os e silenciando quem não se encaixa nos padrões”, afirma Juliana.
A originalidade da dissertação advém justamente dessa valorização das diferenças entre as pessoas. “A diferença da pessoa autista nem sempre é discutida, especialmente na escola. Por isso, a dissertação da Juliana traz grande contribuição para a área de Educação”, enfatiza a professora orientadora Cláudia Maria Ribeiro.
Defesa da dissertação sobre autismo no espaço escolar
O professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Anderson Ferrari, que foi membro da banca examinadora da dissertação, acrescenta: “a pesquisa coloca em evidência a necessidade de repensarmos o atual modelo escolar. Muitas pessoas com autismo sucumbem às tentativas de se enquadrar e não conseguem concluir os estudos”.
Reportagem e roteiro: Gláucia Mendes, jornalista - Dcom/Fapemig
Edição do vídeo: Luíz Felipe Souza Santos - Dcom
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - Fapemig.