Saiba o que é mito e o que é verdade na alimentação de cães e gatos
Professora Flávia Saad, do Departamento de Zootecnia, esclarece as principais dúvidas dos tutores de cães e gatos
A alimentação de cães e gatos envolve muitas polêmicas. Saber qual o melhor tipo de ração, suplemento ou mesmo de comida ideal é uma dúvida de muitos tutores. Afinal, cada animal possui sua própria preferência e pode apresentar reações adversas, dependendo do que irá consumir. Há quem pense que o cão ou o gato pode comer de tudo, o que não é o recomendado, conforme explica a especialista em alimentação animal professora Flávia Maria de Oliveira Borges Saad, do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras (DZO/UFLA). “Na alimentação humana, temos um regime multidietético, ou seja, comemos um pouco de tudo e temos uma grande variação de alimentos. Para animais geralmente muito seletivos, como cães e gatos, normalmente não há essa variação e, com a alimentação caseira (com comida humana), corre-se o risco de estar desbalanceada, caso essa dieta não seja traçada por um nutricionista ou nutrólogo. Se não for possível esse acompanhamento, o melhor é dar ao cão ou gato uma boa ração.”
Mas, como acertar na alimentação do seu melhor amigo? Para falar sobre algumas dúvidas mais comuns entre os donos de pets relacionadas à alimentação, perguntamos à especialista e listamos abaixo. Confira.
Ração
Há diversas marcas disponíveis no mercado, com os mais variados preços, desde econômicas a linhas superpremium. Por isso, na hora da escolha, o tutor fica na dúvida. A professora destaca que a ração irá acompanhar o animal por longos períodos da vida; sendo assim, ela precisa estar completa, balanceada e conter todos os ingredientes necessários para o animal, sem excessos ou falta de nutrientes. “Uma ração econômica bem-feita vai cumprir a sua função. Se você passa para a linha standard, por exemplo, a ração, além de cumprir sua função, terá atributos como alimentos funcionais, nível mais alto de proteína e lipídeos, com maior energia por volume - o que significa que o animal vai comer menos. Tudo isso vai evoluindo até a ração superpremium, que possui um custo mais alto, porém contém ômega 3, fibras de alta qualidade, ácidos graxos etc. Tudo é uma questão de custo x benefício, porém eu sempre falo que a melhor ração é a que cabe no seu bolso.”
De que é feita a ração de cães e gatos
Com o crescimento populacional, a demanda por alimentos também cresce, mas fica a dúvida sobre o que de fato está na ração do seu pet. Segundo a especialista, coprodutos que não são utilizados na alimentação humana podem ser usados na alimentação animal. “Esses coprodutos possuem qualidade nutricional e podem ser utilizados, diminuindo a competição entre humanos e animais pelo alimento e também a poluição ambiental, além de aumentar a sustentabilidade, já que utilizamos o alimento como um todo.”
Alimentação integral para cães
Um nicho de mercado que tem se difundido no Brasil é o da alimentação integral. Em supermercados e pet shops, já é possível encontrar diversos produtos e fica a dúvida: a alimentação integral seria melhor para seu animal de companhia? A pesquisadora explica que “se falarmos nutricionalmente, desde que essa alimentação seja correta, bem balanceada, traçada por um nutricionista, certamente é melhor, mas se formos pensar em termos de sustentabilidade, não.”
Alimentação natural para cães
Outra grande tendência é a alimentação natural ou caseira, que, para um animal, é o mais próximo que ele tem de uma presa. Flávia comenta que no Brasil há duas linhas dessa modalidade de alimentação: a crua e a cozida (caseira). A professora explica que, no caso da crua, esses alimentos naturais podem ser fontes de contágio de microrganismos, inclusive para seres humanos. Já com relação à caseira, ela diz: “o importante é ter o acompanhamento de um nutricionista; se o tutor fizer sozinho, precisa tomar muito cuidado para suprir todas as necessidades de nutrientes do animal”. A professora ainda faz um alerta sobre o malefício de se aumentar certas quantidades de alimentos que o animal gosta e retirar outros que ele não gosta, o que torna a dieta cada vez mais desbalanceada.
A alimentação influencia a imunidade dos cães?
O importante nesse caso, conforme explica a professora, é que o alimento seja adequado e balanceado para o animal. “Uma ração bem elaborada, que tenha ingredientes funcionais que estimulem a imunidade, a saúde intestinal com probióticos, fibras e outros alimentos vai aumentar e modular a imunidade do animal. O mesmo ocorre com a alimentação caseira. Não é questão de ser ração, alimentação natural ou caseira e, sim, uma alimentação balanceada, adequada e completa biologicamente.”
Exames periódicos
Exames para saber como está a saúde do animal devem ser feitos em qualquer situação, conforme enfatiza Flávia. A especialista lembra que é preciso observar a pelagem, as fezes e outras atividades do animal, independente de qual seja a dieta alimentar que ele segue.
Ração vegetariana para cães ou gatos é permitida?
No Brasil, cerca de 30 milhões de pessoas se declaram vegetarianos, ou seja, optaram por tirar a proteína animal da dieta. O número representa 14% da população e os dados são da pesquisa do Ibope Inteligência, conduzida em abril de 2018. Muitas dessas pessoas que seguem a linha vegetariana são tutores de cães ou gatos e optam por dar aos seus pets uma alimentação também vegetariana. Mas será que pode? A especialista esclarece que, desde que essa alimentação não cause risco à saúde do animal, é perfeitamente possível alimentar cães e gatos com ração vegetariana; entretanto, Flávia alerta: “uma dieta vegetariana inadequada pode ser extremamente perigosa. É preciso ter um alimento correto cientificamente desenvolvido e balanceado. O organismo não faz a distinção de onde vêm os nutrientes, desde que estejam na quantidade adequada”.
Alimentação específica de gatos
Os gatos são animais carnívoros de origem desértica, que, na natureza, passam longos períodos sem a ingestão de água. Por isso, naturalmente, esses animais têm uma dificuldade muito grande de se adequar à ingestão de água e acabam apresentando problemas relacionados ao trato urinário. Para minimizar essa característica de pouca ingestão de água, a professora explica que é importante dar a eles uma alimentação adequada. “A dieta mais adequada para gatos é a de alimentos úmidos.” De acordo com a pesquisadora, as fontes de água para gatos podem ser uma opção; já que alguns felinos gostam de água corrente, acrescentar água aos patês também é outra ferramenta.
Gatos podem tomar leite?
Muita gente já ouviu falar que os gatos não devem tomar leite de vaca. Por isso, fica a dúvida sobre dar ou não esse alimento ao animal. De acordo com a especialista, a lactose presente no leite pode levar a alguns desarranjos intestinais, caso o animal não esteja acostumado. “É o mesmo que acontece com o humano: se você não tem o hábito de tomar leite, não terá a enzima lactase que quebra a lactose e poderá ter um desconforto intestinal. Com os gatos é a mesma coisa: se o animal for acostumado desde novo a tomar o leite, de preferência diluído com água, você aumenta muito a ingestão da água diária, sem levar a problemas gastrointestinais devidos à ausência da enzima que quebra essa lactose. É uma questão de costume.”
Como alimentar filhotes de cães e gatos?
Quando os filhotes perdem a mãe no parto ou são abandonados, precisam de ajuda para conseguir sobreviver. A professora Flávia relata que o ideal, nesses casos, é encontrar uma “mãe de leite”. Como nem sempre isso é possível, é aconselhável o uso das fórmulas disponíveis no mercado. “Leite de cadela e de gata possuem uma composição muito diferente da de outros animais, como a vaca. O leite de cadela possui em torno de 1300 Kcal e o de vaca em torno de 700 kcal; porém, a lactose é maior no leite de vaca. Portanto, se eu for dar um leite de vaca para um filhotinho, preciso dar o dobro, com um aporte muito grande de lactose, que pode causar uma diarreia osmótica fatal em filhotes novos. Por isso, o aconselhável são as fórmulas prontas."
Reportagem: Karina Mascarenhas, jornalista - bolsista Dcom/Fapemig
Edição do Vídeo: Rafael de Paiva - estagiário Dcom/UFLA
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - Fapemig.