Pesquisa aponta que cães de raças são escolhidos por modismo
No Brasil, 44,3% dos 65 milhões de domicílios possuem pelo menos um cachorro em casa, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No total, a população de cães chega a 52,2 milhões de animais. A maioria é de raça. Mas o que faz uma pessoa adquirir uma delas em vez de outra, em um universo de cerca de 400 raças? Uma pesquisa do Departamento de Medicina Veterinária (DMV) da Universidade Federal de Lavras (UFLA) traçou o comportamento dos donos de cães de uma das raças em alta atualmente: o border collie. Os resultados apontaram que o principal motivo para se criar a raça é o modismo.
Os pesquisadores entrevistaram 115 donos de cães da raça no município de Lavras. Border collie é considerado o cachorro mais inteligente do mundo. Não é à toa que ele sempre estrela em comerciais e filmes, fato que fez o animal ganhar popularidade. Além de inteligente, é super simpático. Mas na hora de responder o porquê de se criar o border collie, 80% dos entrevistados disseram ter decidido pela raça porque outras pessoas também o tinha. “Esperávamos respostas ligadas às características da raça, como ser amável e ativo, porém a maioria dos tutores não souberam responder o motivo pelo qual adquiriram essa raça. Quando questionados, eles afirmaram que escolheram pelo fato de muitas pessoas terem esse cachorro”, explicou o psicólogo e professor do DMV, Carlos Artur Lopes Leite.
Quem soube explicar o motivo específico da escolha apontou que a raça é muito ativa e companheira na prática de esportes. Outra característica lembrada foi o cão ser “amigo”. E poucas respostas relacionaram o border collie à prática de agility - esporte em que o cão pratica uma série de circuitos no menor tempo possível.
Carlos Artur Lopes Leite esclarece que a mídia e a internet elevam algumas raças em determinadas épocas à condição de status por serem, principalmente, relacionadas a pessoas ricas e realizadas. O veterinário lembra que a mídia determinou o surgimento de modismos dos pets desde os anos 1970 no Brasil. O primeiro filme a criar uma legião de pessoas que queriam o mesmo cão que aparecia na telona foi “O exorcista”, responsável por consagrar a raça rottweiler. O mesmo ocorreu em séries televisivas como “As Aventuras de Rin Tin Tin”, com o pastor alemão, e “Lassie”, quando o país tropical recebeu vários collies pêlo longo.
Nos últimos anos, além do border collie, o pug é um dos animais mais criados desde o lançamento de “MIB – Homens de preto”. A nova onda que vem surgindo é das raças anãs, como o spitz alemão e o chiuaua. “É importante sempre consultar o médico veterinário sobre a escolha. Muitos confundem, por exemplo, chiuaua com pinscher e cruzam erradamente a raça, mudando o temperamento do animal, o que causa problemas para ele e o dono”, disse.
Exigências x transtornos
Os cães entram e saem de moda como roupa. O modismo na escolha do cãozinho esconde futuros transtornos para o animal e os seus tutores. “O maior problema é que quem embarca nessa normalmente desconhece as exigências de criação específicas das raças. O border collie, por exemplo, precisa de atividade física e mental todos os dias. Mas é comum encontrar esses animais mantidos presos em recintos pequenos e por longo período, o que o torna mais agressivo”, exemplificou o psicólogo e professor do DMV, Carlos Artur Lopes Leite.
Por mais tentador que um cão possa parecer e o coração falar alto, é preciso pensar bastante antes de criar uma raça. “A partir do momento que se adquire um cão de raça por modismo, normalmente eles perdem o sentido para o dono, que tenta achar uma função para esse animal que se torna uma espécie de produto problemático”, afirma.
Dificuldades para criar um cão da raça, brigas e disputas familiares são alguns dos efeitos colaterais recorrentes entre quem adquire um cão de raça por impulso. “É necessário consultar orientação do médico veterinário sobre os motivos e possibilidades de criar o animal”, orienta.
Reportagem: Pollyanna Dias, jornalista - bolsista Dcom/Fapemig
Edição do Vídeo: Alberto Mouro - bolsista Dcom/UFLA