Novo estudo estima que 10 milhões de aves e mamíferos silvestres são atropelados no Brasil por ano
Um estudo publicado na Global Ecology and Biogoegraphy, uma das revistas de maior impacto internacional em ecologia, testou um novo método para estimar o numero de atropelamentos de fauna no Brasil. Os resultados oferecem um quadro preocupante: mais de 8 milhões de aves e mais de 2 milhões de mamíferos são mortos a cada ano nas estradas brasileiras. Muitos animais morrem ou sofrem ferimentos graves após a colisão com veículos em muitas zonas do planeta. A mortalidade adicional por atropelamento é provavelmente um dos maiores impactos nas populações selvagens. No entanto, o número de animais mortos e os segmentos de estradas mais mortíferos são difíceis de estimar.
“O atropelamento pode reduzir a abundância da população, limitar a dispersão, diminuir a diversidade genética e, eventualmente, levar à extinção local. É necessário conhecer quais as espécies mais vulneráveis ao tráfego rodoviário, estimar quantos indivíduos podem morrer anualmente e onde há maior probabilidade de serem atropelados para definir uma estratégia eficaz de minimização do número de atropelamentos”, disse Clara Grilo, co-autora deste estudo, colaboradora do Departamento de Biologia da Universidade de Lavras (UFLA), em um projeto financiado pelo CNPq.
O crescimento econômico e social no Brasil tornou o investimento em infraestruturas uma prioridade. Os planos propostos incluem um aumento de 20% nas estradas que cobrem regiões de excepcional diversidade biológica e importância ecológica global, como o Cerrado e a Amazônia. “Vários grupos de pesquisa brasileiros quantificaram os atropelamentos no País, mas ainda há muitas lacunas e pouco se sabe sobre o impacto das rodovias em muitas espécies", disse Flávio Zanchetta Ferreira, que compilou todas as taxas de atropelamento publicadas e fez as estimativas de atropelamentos para as espécies até então sem dados, em seu mestrado na UFLA.
Este novo estudo mostra que o risco de atropelamento pode ser previsto com base nas características das espécies, como o tamanho corporal, o comportamento e as preferências ecológicas. Por exemplo, os autores verificaram que as taxas de mortalidade são mais altas em aves de maiores tamanhos e com comportamento de forrageio terrestre e para mamíferos de porte médio que se alimentam de cadáveres no Brasil. "As espécies generalistas, aquelas que têm dieta mais diversificada e podem usar habitats mais diversificados, também apresentam uma maior taxa de mortalidade, provavelmente porque essas espécies parecem estar mais expostas ao tráfego rodoviário ao aproximarem-se das rodovias e tentarem cruzá-las", disse Manuela Gonzalez-Suarez, professora de Biologia da Conservação na Universidade de Reading no Reino Unido, especialista no desenvolvimento de modelos baseados em características para avaliar a perda de biodiversidade.
Com base nas relações identificadas, os autores descobriram que aves e mamíferos que ocupam a Amazônia possuem características que os tornam particularmente expostos à mortalidade nas estradas. Felizmente, ainda há relativamente poucas rodovias na Amazônia. Mas nas áreas costeiras, onde a densidade de estradas é bastante alta, a susceptibilidade tornou-se um impacto real com um número muito elevado de aves e mamíferos que se prevê que se sejam atropelados a cada ano.
Texto: Clara Grilo, co-autora deste estudo, colaboradora do Departamento de Biologia da UFLA.
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - Fapemig.