UFLA é primeira universidade brasileira a promover comércio justo
Você sabe o que quer dizer fairtrade? A expressão em inglês significa comércio justo. É um movimento global que usa o comércio como ferramenta para apoiar o desenvolvimento dos produtores rurais e suas comunidades. Por exemplo, garante preço para, pelo menos, pagar os custos da produção sustentável nas épocas em que o preço de mercado despenca. Na hora de comprar café na gôndola do supermercado, por exemplo, basta identificar o selo de certificação fairtrade para ter a certeza de que comprou um produto que faz parte do sistema de comércio justo.
Por promover o comércio justo na sociedade e na academia, a Universidade Federal de Lavras (UFLA) celebrou, em uma live realizada na quinta-feira (19/11), o acordo de cooperação firmado com a Associação das Organizações de Produtores Fairtrade do Brasil. Cerca de 170 pessoas acompanharam a celebração dos esforços da universidade, atuante desde a capacitação dos produtores até a gestão estratégica do café, que levou a UFLA ao posto de primeira universidade brasileira no apoio e estímulo ao comércio justo. O evento está disponível pelo canal oficial da BRFair no Youtube.
Pelo acordo, será desenvolvido o projeto de extensão "Comércio justo e universidade - ações de extensão para capacitação de produtores e incentivo ao consumo e desenvolvimento local", sob coordenação dos professores do Departamento de Administração e Economia (DAE) Paulo Henrique Montagnana Vicente Leme e Elisa Reis Guimarães. As atividades do projeto incluem o desenvolvimento de ações de extensão relacionadas ao comércio justo; realização de palestras e workshops sobre boas práticas de gestão e produção, voltadas aos produtores certificados; realização de eventos que promovam o movimento do comércio justo, além de assessoria, gestão de custos, treinamentos e cursos para produtores certificados pelo fairtrade.
Durante o encontro virtual, o pró-reitor de Extensão e Cultura da UFLA, professor Jackson Antônio Barbosa, ressaltou o papel de excelência da Universidade na transformação da sociedade, com cerca de 300 projetos de extensão que levam o desenvolvimento científico para a população – a maioria deles no segmento agrícola. “Nosso papel é popularizar a ciência. Por exemplo, a zona rural de Lavras conta com 1.315 produtores rurais. Desses, 335 são da cadeia do café, sendo 297 pequenos produtores com os quais vamos atuar lado a lado”, afirmou, enquanto relembrava o perfil pioneiro da UFLA em várias áreas, reconhecida como exemplo de sustentabilidade, ocupando a 26ª posição do Green Metric World University Ranking, a melhor colocação de uma instituição da América Latina.
O professor Paulo Henrique reforçou a importância da UFLA ser reconhecida como universidade referência em comércio justo. “O apoio é uma forma de incentivar o pagamento de preço justo à produção sustentável dos pequenos produtores de café, castanhas, frutas, mel, para que eles tenham qualidade de vida. O reconhecimento da Universidade é mais do que uma conquista de cooperação. É um passo muito importante para estreitar os laços do que já fazemos há anos e abrir novos caminhos”, disse.
A professora do DAE e coordenadora do projeto, Elisa Reis Guimarães, informou que um dos objetivos da UFLA é estreitar relações com organizações de pequenos produtores. “A BRFair é uma parceira importante para dar mais visibilidade às ações de comércio justo, economia solidária e consumo responsável, que já são realizadas na Universidade e agora serão ampliadas, na intenção de que as relações comerciais sejam mais justas para os produtores familiares”, disse.
Além do projeto de extensão, os outros braços de apoio da UFLA no fomento ao comércio justo serão o ensino e a pesquisa. “Conquistar o posto de primeira universidade brasileira pelo comércio justo amplia nossos trabalhos na Instituição. Vamos capacitar ainda mais estudantes, intensificar conteúdos de comércio justo em sala de aula e aumentar as pesquisas na área”, afirmou ela.
Uma das iniciativas de comércio justo desenvolvido pela UFLA ocorre desde 2017, na escola Cafesal. A barista e gestora da cafeteria, Emanuelle Costa, contou o exemplo de sucesso. “Na semana do comércio justo, a cafeteria fica muito cheia e os produtos esgotam rapidamente. É a prova de que as pessoas buscam esse tipo de produto porque acreditam no café orgânico, sustentável e produzido por mulheres”, destacou.
Desde 2014, a universidade desenvolve ações na área. Dois anos depois, a UFLA se aproximou do movimento lançado pela Coordenadoria Latino-americana e do Caribe de Pequenos Produtores de Comércio Justo (Clac), com o objetivo de estreitar as relações entre as universidades e as organizações de pequenos produtores certificados no Fairtrade. Durante a live, a coordenadora da Clac, Linda Vera, frisou o papel da academia na conquista de regras mais justas no comércio internacional, no cenário pós-pandemia do novo coronavírus. “A universidade é a chave para a América Latina olhar para si mesma e fator de transformação social no Brasil. Sem conhecimento não existe mudança e hoje, mais do que nunca, precisamos do apoio do conhecimento e da pesquisa científica para superar os desafios da conjuntura atual. Esperamos que a experiência com a UFLA seja modelo de inspiração para outras universidades e países”, declarou.
Saiba mais
Comércio justo é uma iniciativa muito importante para a promoção da sustentabilidade, maior igualdade nas relações comerciais e remuneração adequada do produtor. Historicamente, o produtor é o elo mais frágil da cadeia produtiva: normalmente, não recebe valor adequado por seu trabalho; intermediários e vendedores finais recebem o lucro da venda do produto agrícola. Para melhorar a renda e a qualidade de vida do pequeno produtor rural, o sistema de comércio justo promove relações comerciais mais próximas com compradores, favorece negociações transparentes entre produtor, exportador e importador. Ao comprar um café fairtrade, por exemplo, o consumidor se torna um agente ativo nas ações de mudanças no comércio.
Pollyanna Dias, jornalista- bolsista