Projeto da UFLA promove cultura, resistência e inclusão social por meio da capoeira
Há quase duas décadas, o projeto de extensão Uniginga Capoeirart vem atuando na preservação das tradições afro-brasileiras por meio da disseminação da capoeira, arte que surgiu no Brasil como forma de resistência e luta. Ao completar 10 anos, em 2015, o projeto passou por reformulações que ampliaram o acesso da comunidade à essa expressão artística e cultural.
Com aulas que acontecem nas noites de segundas, quartas e sextas-feiras, o Uniginga recebe, no Centro de Integração Universitária (Ciuni/UFLA), discentes, docentes, técnicos e pessoas da comunidade de Lavras e da região que desejam ter essa vivência. Proporcionando uma condição física mais satisfatória e comportamentos mais conscientes, “o Uniginga Capoeirart visa o crescimento e a disseminação da arte da capoeira, despertando o prazer da busca do conhecimento, respeitando as limitações e capacidades dos praticantes, considerando sempre a etapa mental, cronológica e motora, proporcionando a liberação dos sentimentos como agressividade, medo”, explica o coordenador do projeto e professor da Faculdade de Ciências da Saúde (FCS/UFLA), Márcio Norberto Farias.
Entre as diversas ações realizadas pelo grupo, destaca-se o “Engenho dos Ritmos”, que trabalha com os ritmos tradicionais africanos e afro-brasileiros; o “Berimbau Capoeira e Campo”, que é um passeio ecológico com palestras, cantigas, dança, teatro, maculelê, samba de roda e comidas típicas, exaltando valores culturais e tradicionais esquecidos; o Programa de Aprendizagem Básica Avançado (Proaba); e de um núcleo de estudos afro.
Presente em mais de 200 países, a capoeira é considerada, desde 2008, patrimônio cultural brasileiro, com lições sobre a convivência, o respeito ao próximo, o companheirismo e o trabalho em equipe. “Vou pegar a corda amarela, que é a terceira corda adulta. Ela representa todo esse tempo que tenho dedicado à capoeira, tudo o que aprendi até hoje e o que o meu mestre me ajudou a conquistar”, expressa o operador de corte Gabriel Jonathan, aluno do projeto há mais de um ano.
A prática da capoeira também é uma grande aliada no tratamento de pessoas com necessidades especiais e pessoas 60+, pois libera substâncias como a endorfina, que deixam o corpo mais leve com a sensação de bem estar. “Não é preciso ter preparo físico ou idade certa para iniciar a prática da capoeira. Defina seu propósito e encontre um professor com o qual você se identifique”, recomenda o supervisor técnico cultural do Uniginga Capoeirart, Luiz Fernando Arcênio Pereira.
A história da capoeira
A capoeira tem sua origem associada ao contexto da escravidão no Brasil, com os primeiros registros históricos datando do século XVIII. Os escravizados africanos desenvolveram essa prática como uma forma de autodefesa e resistência à opressão dos senhores. Pesquisadores afirmam que essa origem data da época dos quilombos, comunidades formadas por pessoas que fugiam da violência e da repressão.
O termo capoeira refere-se ao “mato que cresce após o desmatamento”, fazendo referência à vegetação nova e rasteira. Essa denominação está ligada ao ambiente no qual a prática se desenvolveu inicialmente: em áreas de mata. Surgida na zona rural, a capoeira só mais tarde se expandiu para os centros urbanos. Desde seu início, configurou-se como uma forma de resistência e luta.
Como os escravizados eram proibidos de praticar combates, a capoeira foi disfarçada por meio de movimentos ritmados acompanhados de cantos africanos, dando-lhe a aparência de uma dança. Praticada de forma clandestina em fazendas e terreiros, essa arte funcionava como um meio de defesa à opressão.
Assista ao vídeo do UFLA na Comunidade para saber mais e conhecer alguns dos envolvidos no projeto:
Texto: Lucas Henrique Teixeira. Colaboração: Claudinei Rezende e Pedro Cardoso. Revisão: Camila Caetano.