Marias que bordam a vida
Fazer do artesanato um instrumento de transformação social para mulheres tem sido objetivo do projeto de extensão Mariarte, desenvolvido pelo time Enactus UFLA. O trabalho do grupo de universitários com base no empreendedorismo social deu início a uma rede colaborativa de mulheres que se reúne semanalmente no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) do bairro Cohab, em Lavras, para aprender técnicas de bordado e produzir panos de prato para revenda.
De acordo com a coordenadora de gestão de pessoas da Enactus UFLA, a estudante de Direito Catharine Valle, o Mariarte foi idealizado por estudantes que participavam do primeiro processo seletivo do grupo na Universidade. “Esses alunos viram que existia no CRAS da Cohab um grupo de mulheres que se encontravam para oficinas de artesanato, e perceberam ali um grande potencial de desenvolvimento. O projeto foi apresentado de forma hipotética durante o primeiro processo seletivo da Enactus UFLA, em 2015, e foi ganhando forma com a colaboração de toda a equipe, entrando em atividade em novembro de 2016”, explica.
Hoje, cerca de 15 mulheres estão ligadas ao projeto e fazem do bordado uma possibilidade de renda extra, por meio da venda em feiras de artesanato, além de uma prática terapêutica que auxilia no combate a transtornos emocionais e cognitivos. “Trabalhamos com elas constantemente o aspecto emocional. Quando iniciamos, muitas tinham dificuldade para interagir. Fizemos diversas atividades para aproximação e buscando promover o empoderamento do grupo, como eventos para cuidado da saúde e beleza. Hoje, é nítida a diferença. Temos uma relação de confiança, e elas se sentem confortáveis para conversar com a gente”, conta a estudante de Administração Pública Ana Laura Bagne, coordenadora do jurídico-financeiro do Enactus UFLA.
A alegria dos encontros às terças-feiras é perceptível na fala da aposentada Maria José de Oliveira, de 71 anos. Ao ser questionada sobre o que gosta de fazer no Mariarte, é enfática: “gosto de tudo.” Ela, que aprendeu a bordar com as oficinas do projeto, reforça a importância da atividade para seu bem-estar psicológico. “O bordado é uma beleza para a cabeça. Parece que a cabeça da gente refresca, dá um alívio grande. Quando estou aborrecida, é uma distração”, revela. O retorno financeiro com as vendas também tem ajudado. “Usei o dinheiro das últimas vendas para comprar um remédio que estava faltando. Também comprei leite e pão. Eu adoro o bordado e pretendo continuar fazendo.”
A possibilidade de renda extra tem motivado também Maria da Conceição Resende, de 64 anos. Aposentada, ela conta que a quantia que consegue com as vendas, ainda que não seja constante, tem sido uma boa ajuda. “Esse dinheiro me ajuda muito. Faço de tudo para deixar meus panos de prato bem bonitos. As meninas (Enactus) me ajudam com os desenhos aqui e continuo a bordar quando chego em casa. E é um passatempo para gente também, né?”, ressalta.
Desenvolvimento social e sustentável
O crescimento do projeto tem sido planejado para 2019. Com apoio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Lavras, o Mariarte vai passar a funcionar em uma nova casa no bairro Lavrinhas, onde as participantes poderão trabalhar sempre que quiserem. “Até agora os encontros no CRAS têm sido semanais, mas elas sentem falta de poder continuar as atividades quando querem, produzir cada uma no seu ritmo”, explica Catharine. Além do novo espaço, a Prefeitura de Lavras vai disponibilizar dez máquinas de costura ao grupo para incentivar a produção. A rede também tem contado com o patrocínio mensal da escola Number One para compra dos materiais.
A Enactus também tem buscado desenvolver consciência financeira junto às artesãs. As vendas dos panos produzidos têm sido realizadas em feiras na cidade, com apoio da Prefeitura de Lavras. Em todas as oportunidades, foram vendidas todas as peças. Na última feira, a equipe trabalhou com a temática do Natal e apresentou o valor da produção dos panos de prato, dando a possibilidade de cada artesã definir o preço do seu produto. O grupo também mostrou a importância de manter um caixa do Mariarte para futuros investimentos.
Uma conta no Instagram (@mariartelavras) foi criada para divulgação do trabalho, o que deve aumentar as possibilidades de venda dos produtos. “Queremos fazer um projeto autossustentável. Dar possibilidades para que, depois da nossa etapa de imersão, elas possam conduzir o projeto sozinhas”, explica Ana Laura.
Trabalho em equipe e crescimento para a vida
O Enactus é uma organização de estudantes internacional sem fins lucrativos voltada para o empreendedorismo social. Para o time Enactus da UFLA, desenvolver o projeto Mariarte tem sido uma experiência profissional e de vida. “Precisamos aprender muito para fazê-lo acontecer, desde as técnicas de bordado até a parte financeira. Esse crescimento profissional é muito importante, estamos enriquecendo nossa formação acadêmica e desenvolvendo uma rede de contatos. Quanto ao ganho social, não consigo nem descrever. Eu ganhei outra perspectiva de vida, meu rosto fica até doendo de tanto sorrir quando estou nas oficinas. É incrível ver todos engajados em fazer a diferença”, ressalta Catharine.
Ana Laura completa: “o projeto tem sido nossa prioridade. Temos a consciência da responsabilidade que precisamos ter com o Mariarte, porque muitas vidas dependem disso. Então, estamos sempre nos desdobrando para fazer as atividades e nos reunimos sempre que preciso, mesmo em horas e dias improváveis. É muito gratificante ver como está crescendo.”
Além do Mariarte, o Enactus UFLA está desenvolvendo dois projetos: o Religare, que busca o desenvolvimento pessoal e profissional de estudantes na Escola Estadual Cristiano Souza, e o Rotas, voltado para gestão de resíduos sólidos de forma ampla e eficiente.
Reportagem de vídeo: Raphaela Mendonça - Estagiária DCOM
Produção: Melissa Vilas Boas, relações públicas - bolsista Dcom/Fapemig
Imagens e edição: Luiz Felipe Souza Santos - bolsista Dcom/Fapemig / Maik Ferreira - estagiário Dcom/UFLA
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