Impactos das micotoxinas na saúde humana é tema de workshop
“É necessário reduzir o problema que não é apenas relacionado ao âmbito agronômico. É uma questão de saúde pública”. A afirmação, de autoria do pesquisador Rodrigo Veras da Costa, da área de Fitopatologia da Embrapa Milho e Sorgo, traduz a gravidade da contaminação do milho pelas micotoxinas, substâncias químicas tóxicas produzidas por determinados tipos de fungos.
No milho, esses fungos podem proliferar desde a fase em que o cereal está no campo, de acordo com as condições de temperatura, umidade e presença de oxigênio. Esse atraso na colheita, bastante praticado pelos agricultores – com o objetivo de atingir a umidade ideal na lavoura, economizando tempo e dinheiro em etapas seguintes, como levar o cereal ao secador – aumenta ainda mais a ocorrência das micotoxinas.
“A permanência do milho no campo, por quaisquer questões operacionais, acarreta em um maior surgimento de fungos. As fumonisinas e as zearalenonas, micotoxinas provenientes de fungos da fase de pré-colheita, podem provocar o surgimento de determinados tipos de câncer”, enfatiza o pesquisador. Além do grave problema de saúde pública, a presença das micotoxinas provocam perdas diretas na produção e na produtividade das culturas, além de reduzir o valor comercial ou impedir a exportação dos produtos afetados.
No milho, Rodrigo Veras explica que os fatores que causam a contaminação estão relacionados a baixos níveis de resistência de determinadas cultivares, clima e outras condições diversas, além da incidência de insetos. “O milho Bt, nesse sentido, tem importância fundamental quando reduz os danos causados por insetos. Consequentemente, a ausência de danos nas espigas evitam a proliferação de fungos nas espigas e o desenvolvimento ainda maior do problema”, explica.
Controle associa diversas práticas
Em relação às práticas de manejo, o pesquisador elenca cinco pilares para controle do problema: resistência genética das cultivares; práticas culturais adequadas; controle químico e uso de cultivares transgênicas; ajuste na época da colheita e época certa de plantio. Em relação à primeira característica – a resistência genética – Rodrigo Veras explica que ainda não há evidência para resistência completa em híbridos de milho. “A maioria dos híbridos comerciais ainda são suscetíveis, infelizmente”.
Segundo ele, as dificuldades para se chegar a um material com resistência estão relacionadas à amplitude da base genética do germoplasma e à forte influência do ambiente, entre outros fatores. “As alternativas que temos são a criteriosa identificação de híbridos comerciais para resistência aos principais fungos toxigênicos e às suas micotoxinas”, antecipa o pesquisador. E em relação às práticas agrícolas adequadas, Veras reforça a necessidade de semeadura na época ideal, a adoção de uma baixa densidade de plantas associada à adubação nitrogenada feita de maneira correta, além do controle de insetos.
O tema foi debatido durante o primeiro dia do XXXII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, que acontece até a próxima sexta-feira em Lavras-MG. O I Workshop de Micotoxinas: impactos nas cadeias produtivas de milho e sorgo reuniu mais de 250 participantes, entre eles o engenheiro agrônomo Nildo da Silva Lopes, conselheiro da Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja). “A incidência de grãos contaminados vem aumentando tanto na cultura da soja quanto na do milho. Precisamos de esforços para controlar a problema”, enfatizou.
Guilherme Viana – Jornalista da Embrapa Milho e Sorgo
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - Fapemig.