Pesquisa identifica registro inédito de lobo-guará no câmpus da UFLA
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A imagem registrada, apesar de não retratar o lobo-guará integralmente, permitiu que os pesquisadores o identificassem a partir de características bem definidas.[/caption]
Um projeto de pesquisa em desenvolvimento no Laboratório de Ecologia e Conservação de Mamíferos, do Departamento de Biologia (Lecom/DBI), fez o registro inédito da presença de um lobo-guará (
Chrysocyon brachyurus) no câmpus da Universidade Federal de Lavras (UFLA). A imagem do animal foi capturada em 23 de março, na região de matas próxima à rodovia MG-355 (
confira no mapa).
O lobo-guará está no
Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, posicionado na categoria “vulnerável”. Assim, para os pesquisadores, a presença da espécie na área da Universidade é um indicativo da importância de conservação dos fragmentos florestais e resquícios de cerrados presentes na UFLA e seu entorno. É uma região que pode proporcionar recursos e servir de corredor ecológico para a maior espécie de canídeo silvestre sul-americano. A redução populacional dessa figura icônica da fauna brasileira tem sido causada, principalmente, pela degradação de seus habitats, por atropelamentos, doenças e retaliação à predação de animais domésticos.
A pesquisa, coordenada pelo professor Marcelo Passamani e desenvolvida pelo estudante de graduação em Biologia Mateus Melo Dias, com o envolvimento de mais três estudantes ligados ao Lecom, começou a ser feita em outubro de 2015, com término previsto para setembro de 2016. Três câmeras fotográficas especiais (com sensor infravermelho para captura de movimento e calor) são posicionadas em locais estratégicos do câmpus para captura das imagens. Juntas, elas registram cerca de 1500 fotografias por semana. A equipe envolvida altera periodicamente o lugar de instalação das câmeras, mantendo-as sempre protegidas da ação do tempo.
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Um veado aparece em imagem registrada em 15/5, no período da manhã.[/caption]
A cada duas semanas, os cartões de memórias das câmeras são descarregados e tem início a seleção de imagens, com os pesquisadores examinando-as atentamente
à procura de mamíferos de médio e grande porte. De acordo com Mateus, as espécies com maior número de registros são gambás, tatus-galinha e tapiti (lebre brasileira). Outras aparecem em menor frequência, como o veado mostrado na fotografia de 15 de maio de 2016.
Pesquisa semelhante foi realizada há sete anos por Júnior Ribeiro da Silva, durante seu Trabalho de Conclusão de Curso, porém com metodologia diferente. Na época, os registros eram somente feitos por meio de parcelas de areia para identificação de pegadas. Se comparados com os resultados anteriores, o levantamento atual já permitiu o registro inédito de duas espécies: além do lobo-guará, o quati (
Nasua nasua). No intervalo entre as duas pesquisas (entre 2013 e 2014), parte do câmpus foi cercada por alambrados. Uma das intenções dos pesquisadores é também verificar se há impacto dessas estruturas na circulação da fauna de médio e grande portes.
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Imagem de um tatu-galinha, registrada em 17/4. Ele está entre os animais que aparecem com maior frequência nas fotografias.[/caption]
A pesquisa
Levantamento da Mastofauna de Médio e Grande Porte no Câmpus da UFLA tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), materializado na bolsa que garante as atividades do graduando Mateus. A identificação dos mamíferos presentes permite o conhecimento da área para que ações de conservação e preservação da biodiversidade possam ser implementadas. De acordo o prefeito do câmpus, professor Jackson Antônio Barbosa, pesquisas como essas são essenciais para que a instituição possa pautar suas ações, conciliando as necessidades de expansão com a preservação ambiental. “Os resultados podem apontar caminhos inovadores para um desenvolvimento institucional sempre sustentável”, comenta.
O câmpus da UFLA possui 475,72 ha. A área urbanizada equivale a 13,82% do total (65,79 ha); a vegetação nativa ocupa 23,79% (113,18 ha); as áreas agrícolas, incluindo as florestas plantadas, têm extensão de 271,16 ha (56,99%), e as regiões ocupadas pelas águas são de 15,59 ha (3,27%).
Mais sobre o lobo-guará
O mamífero, cujo nome significa “cachorro dourado de cauda curta em latim”, pesa entre 20 e 33 Kg. Em geral, ele circula por uma área com extensão entre 50 e 70 Km
2, possuindo hábito solitário. É conhecido como agricultor do Cerrado, já que uma boa parte de sua dieta é composta por frutas, servindo como um grande agente dispersor de sementes.
O lobo-guará é também um predador de animais, como ratos e cobras. Ele não tem parentesco próximo com nenhuma espécie de lobo, raposa ou coiote, pois seguiu um caminho próprio na evolução dos canídeos selvagens.
Com habitat tradicional nas regiões de Cerrado, o lobo-guará tem também ocupado regiões de Mata Atlântica, pelo fato de esse bioma ter sido intensamente desmatado, apresentando características cada vez mais campestres. Com trechos que podem ser considerados transição de Cerrado e Mata Atlântica, a UFLA é um local em que este mamífero pode circular, especialmente nas regiões não ocupadas pela ação humana.