Só 0,2% das escolas públicas tem desempenho de país desenvolvido
O Estado de São Paulo, 21/06/07
Renata Cafardo
De 55 mil unidades do País, 160 têm Índice de Desenvolvimento da Educação Básica igual ou maior que 6
Veja o ranking completo
Apenas 0,2% das escolas públicas brasileiras chega a um índice considerado médio entre países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) em qualidade do ensino. Elas são 160 escolas - do total de mais de 55 mil - que têm Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) igual ou maior que 6,0, numa escala de 0 a 10. A classificação foi feita pelo Estado a partir dos dados do Ideb por escola, que serão divulgados hoje pelo Ministério da Educação (MEC). Há cerca de dois meses, o governo lançou os mesmos indicadores por município.
A comparação com nações da OCDE pode ser feita porque o governo federal projetou o Ideb, que só existe no Brasil, para países estrangeiros, levando em conta a participação em avaliações internacionais, como o Pisa (que mede conhecimentos de leitura, matemática e ciências). O Ideb considera o desempenho dos alunos na Prova Brasil, exame realizado por todas as crianças de 4ª e 8ª série do País, e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), feito por amostragem.
Além do resultado das provas, o MEC usa índices de aprovação dos alunos para compor o Ideb. Segundo o presidente do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep/MEC), Reynaldo Fernandes, o cálculo que criou índices para os estrangeiros usou uma taxa de aprovação de 97%, considerada média nesses países, além da participação no Pisa.
Assim, a Holanda, por exemplo, ficou com Ideb 7,0 e o Reino Unido, com 6,5. A média dos países da OCDE é de 6,0, valor que também foi considerado como meta a ser atingida pelo Brasil até 2021.
Apesar de apenas uma pequena parcela das escolas brasileiras chegar a esse índice, há unidades que têm desempenho superior a países com educação de excelência, como Coréia e Finlândia. É o caso da escola Prof. Guiomar Gonçalves Neves, em Trajano de Morais, no Estado do Rio, que teve Ideb 8,5 e é a melhor do País.
A escola municipal Helena Borsetti, em Matão, no interior de São Paulo, também tem Ideb superior ao projetado para a Holanda. Ela é terceira no ranking das melhores do Brasil, de 1ª a 4ª série, e a mais bem colocada de São Paulo. O Ideb é 7,3. Segundo o secretário de Educação de Matão, Alexandre Luiz Martins de Freitas, a grande razão do sucesso da escola é que ela está inserida no ambiente e na comunidade locais.
A unidade, que tem cerca de 260 alunos, fica quase na zona rural de Matão. Das janelas, os alunos vêem só a terra vermelha característica dessa região do interior do Estado. Mas, dentro da escola, há cozinha experimental que usa alimentos plantados lá mesmo, laboratórios e salas amplas com poucos alunos. O currículo foi adaptado para crianças do meio rural, incorporando noções de agricultura e pesquisas da realidade local. “Os professores são engajados, é uma escola que dá muito pouco trabalho”, diz o secretário.
Dentre as 55.967 escolas que fazem parte do índice, apenas 0,01% - ou 9 delas - têm Ideb equivalente ao da escola de Matão. Outras 33 unidades de ensino, o que representa 0,05% do total, chegam a 6,5 e se equiparam ao Reino Unido.
META
Segundo o presidente do Inep, as escolas que chegam a índices semelhantes aos encontrados em países desenvolvidos e com educação reconhecidamente de qualidade mostram apenas desempenhos pontuais. “Para a Holanda toda, como país, ter um índice de 7,0, ela tem de ter várias escolas com Ideb muito maior que isso”, explica.
Ele acrescenta que a meta do Brasil de chegar a um Ideb médio de 6,0 - hoje é de 3,8 nas séries iniciais do ensino fundamental - não quer dizer que todas as escolas ou municípios tenham de ter esse valor de índice.
O material divulgado pelo MEC hoje vai mostrar que cada escola tem um meta diferente para 2021, de acordo com seu desempenho atual. A data foi assim fixada devido às comemorações do bicentenário da Independência do Brasil, em 2022. Mesmo escolas que já tenham passado da média 6,0 hoje terão de melhorar.
Atualmente, há 12.857 escolas de 1ª a 4ª séries com Ideb igual ou maior que o índice médio brasileiro, de 3,8. Outras 6.841 de 5ª a 8ª séries estão com índice igual ou superior à média, que é de 3,5.
SAIBA MAIS
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica leva em consideração dois fatores que interferem na qualidade do ensino. São eles: o rendimento escolar, por meio das taxas de aprovação, reprovação e abandono, e as médias de desempenho dos alunos nas avaliações nacionais - Saeb e Prova Brasil. A combinação entre o fluxo e a aprendizagem resulta em uma média para cada Estado, município e escola e para o País que varia numa escala de 0 a 10.
Em abril, o governo federal divulgou o Ideb por municípios e Estados. À época, Ramilândia (PR) ficou entre os últimos colocados no índice de 1.ª a 4.ª séries, mas foi detectado que o município preencheu os dados de aprovação e reprovação de forma errada. O erro foi corrigido e o índice da cidade melhorou.
A importância do Ideb é que ele será usado pelo MEC como indicador para verificar o cumprimento das metas fixadas no Compromisso Todos pela Educação, o que resultará em mais recursos. Há “notas” para cada fase do ensino fundamental - de 1.ª a 4.ª séries e de 5.ª a 8.ª séries - e, quando houver dados, para o ensino médio.
Metade dos melhores colégios está no Rio
Qualidade exemplar, porém, não é realidade do ensino público no Estado
Metade das melhores escolas do País, de acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), está no Estado do Rio. Nos dois rankings, de 1ª a 4ª séries e de 5ª a 8ª séries, há cinco fluminenses entre as dez melhores. A melhor escola pública do País fica no município de Trajano de Morais, no interior do Rio.
Segundo especialistas, o resultado é pontual e não reflete o sistema de ensino público no Estado. O melhor colocado no ranking de 5ª a 8ª séries, por exemplo, é o Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para o economista Claudio de Moura Castro, ex-diretor da área de educação do Banco Mundial, a boa colocação das escolas federais não pode ser confundida com bom desempenho do Estado e do município na área da educação. “Isso não tem nada a ver com ensino público. São ilhas de excelência, muito caras e seletivas. Custam mais de cinco vezes por aluno e têm professores de nível universitário.” Segundo ele, é preciso dar atenção à péssima qualidade do ensino público no Rio como um todo. Há atualmente 20 mil crianças no Estado sem aulas por falta de professores. “No entanto, isso não impede que instituições de tradição se destaquem”, diz o educador.
As boas colocações do Rio também foram ajudadas pela ausência das escolas estaduais de São Paulo no índice. Isso porque o Estado participou apenas por amostragem da Prova Brasil, em 2005, avaliação que compõe o Ideb.
Os rankings também mostram que as escolas do interior do Brasil são as mais bem colocadas quando se fala das séries iniciais do ensino fundamental. São apenas duas escolas da capital entre as melhores. “As escolas têm um trabalho mais próximo da comunidade, o professor é reconhecido na rua. Isso influencia muito principalmente na educação de crianças pequenas, que precisam se sentir acolhidas”, explica o educador da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e presidente da União Paulista de Conselhos Municipais de Educação, Artur da Costa Neto.
A especialista da Universidade de São Paulo (USP) Silvia Colello lembra que as cidades menores têm mais facilidade em implementar projetos, que às vezes são inviáveis em grandes metrópoles. “A gestão também é muito complicada nas cidades grandes”, completa. A rede da capital paulista, por exemplo, tem cerca de mil escolas, enquanto há cidades do interior com menos de dez, o que se torna mais fácil de administrar.
O município de Barra do Chapéu, no Vale do Ribeira, foi o primeiro colocado no ranking de municípios do Ideb e volta a aparecer com uma de duas escolas na lista das melhores agora. A cidade tem apenas uma escola urbana e outras quatro rurais.
CONTEÚDO
Já o ranking das escolas de 5ª a 8ª séries tem sete escolas de capitais do País, entre as dez melhores. “Para alunos maiores, o que importa é o conteúdo, por isso essa diferença”, diz o educador da PUC. Mesmo assim, há uma escola de Sertãozinho, cidade paulista da região de Ribeirão Preto, uma de Miguel Pereira, no Rio, e uma de Juiz de Fora, em Minas, entre as melhores.
O Estado pior qualificado dos rankings é a Bahia, que tem sete representantes na lista das piores de 5ª a 8ª séries. Entre as escolas dos anos iniciais do ensino fundamental, há três daquele Estado e outras quatro do Paraná.
Para a pedagoga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC), Evelise Maria Labatut Portilho, o índice mostra os extremos do Estado. “Nunca tivemos tanta gente em escolas, tanta gente nas universidades, mas também nunca tivemos tantos analfabetos funcionais”, diz. “Há mais gente incluída, mas também há muito mais excluídos.”
7,1
foi a maior média obtida por uma escola federal de 1.ª a 4.ª séries na avaliação. Foi o Colégio Dom Pedro II, no Rio. De acordo com especialistas, as boas médias de escolas do Rio não refletem a situação do ensino público no Estado
(COLABORARAM EVANDRO FADEL E FELIPE WERNECK)
Nem ciclos de ensino, nem atrasos
No Colégio de Aplicação da UFRJ, 55% dos professores têm mestrado
Felipe Werneck, RIO
No Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CAP-UFRJ), que teve o melhor desempenho nacional no grupo de escolas de 5ª a 8ª séries, não há sistema de ciclos nem tolerância a atrasos. Quem chega depois das 7 horas fica retido no auditório até a aula seguinte. Lá, 98% dos 87 professores efetivos trabalham em regime de dedicação exclusiva. A especialização é outro fator apontado pela direção como decisivo para o resultado: 55% dos professores têm mestrado no currículo, 8% têm doutorado e 27%, alguma especialização.
A escola, que completará 60 anos em 2008, tem 760 alunos matriculados nos ensinos fundamental e médio. O ingresso na alfabetização é feito por meio de sorteio desde 1999. “Aqui, o aluno não fica o dia todo, mas o professor fica”, diz a diretora Celina Costa. O aluno não fica mais tempo porque não há espaço disponível. “Nosso projeto pedagógico prevê o horário integral. O prédio é uma reivindicação antiga.” A escola tem orçamento de R$ 240 mil pagos pela UFRJ, e está recebendo neste ano do MEC verba adicional de R$ 178 mil para infra-estrutura. Um professor com mestrado recebe, em média, R$ 2,5 mil.
Marcelo Bueno formou-se no colégio e hoje é diretor-adjunto de Ensino. Ele e Celina foram eleitos para os cargos pelos alunos, professores e funcionários. “Os professores desenvolvem pesquisas e têm estreito contato com o ensino superior, por isso estão permanentemente atualizados”, diz Bueno. O CAP funciona como campo de estágio para a licenciatura da UFRJ. Lá, cada turma tem cerca de 30 alunos. “Todos são conhecidos pelo nome. A relação é muito afetiva e não se restringe à sala de aula.” Autonomia é a palavra-chave.
Os alunos da manhã podem cursar aulas de apoio à tarde, e vice-versa. Há oficinas de música, teatro e artes plásticas; laboratórios de inglês, francês e informática. Mas não há aula de informática. “O computador é usado para fins didáticos, com acompanhamento de um professor ou monitor para controlar o conteúdo acessado.” Os laboratórios de física e química estão em obras.
O CAP foi criado para receber preferencialmente filhos de professores e funcionários da UFRJ, o que não ocorre mais. No primeiro ano do ensino médio, há uma prova de nivelamento, depois sorteio. Quando há vagas ociosas, também é feito sorteio para a 5ª série. “O pique dos estudos aqui é pesado, é uma escola para quem quer estudar.” Mas também há problemas: por causa de uma greve de servidores, a biblioteca estava fechada.
O diretor de ensino avalia que o desempenho da escola é resultado de um trabalho contínuo. “É óbvio que ficamos contentes, mas isso não pauta a nossa maneira de trabalhar.”
ILHAS DE EXCELÊNCIA
O colégio Pedro II do Humaitá, outra unidade federal com tradição no Estado, ficou em 2º no mesmo ranking, e o Pedro II do centro, em 4º.
Eduarda Lazari Maia, de 15 anos, cursou a 8ª série no ano passado no CAP-UFRJ e pretende fazer arquitetura. Ela destacou o bom relacionamento com os professores. “Eles estão sempre disponíveis e a conversa é aberta. Mas é bastante puxado também”, diz.
A 253 quilômetros do Rio existe um Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) onde o ensino é integral na prática, e não apenas na teoria do antropólogo e ex-vice-governador do Estado Darcy Ribeiro (1922-1997).
O Ciep Professora Guiomar Neves, em Trajano de Morais, teve o melhor desempenho nacional para 1ª a 4ª séries do ensino fundamental. Para o professor Elielton Moreira Riguetti, de 31 anos, diretor da escola desde julho de 2004, a principal contribuição para o resultado é o comprometimento de todos os professores. A escola começou a funcionar em 1994 e tem 430 alunos, dos quais 120 de 1ª a 4ª séries. Dos 30 professores, 8 dedicam-se exclusivamente a esses alunos.
“O resultado deixou toda a equipe muito feliz, saber que o nosso trabalho está sendo reconhecido”, afirma Riguetti. Ele vai completar três anos no cargo e contou que a equipe é a mesma até hoje. O horário integral é fator decisivo. “Temos as aulas comuns mais estudos dirigidos, recreação, artes, salas de leitura e vídeo.” O piso salarial de um professor do ensino fundamental na escola é de R$ 800. “Todos têm curso superior ou estão cursando. Também estimulamos muito a participação dos pais.”
Melhor escola de SP fica em 90º lugar entre as municipais no País
Nenhuma paulistana está no topo do ranking com Ideb igual ou superior a 6, na escala de 0 a 10
Maria Rehder
Nenhuma escola da rede municipal de São Paulo aparece no topo do ranking das melhores do País, que tiveram o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) superior a 6, em uma escala de 0 a 10. Entre as dez melhores escolas públicas de 1ª a 4ª séries do País, três são do interior paulista: a terceira melhor foi a Emef Professora Helena Borsetti, de Matão, com Ideb 7,3; a sexta melhor foi a Emef Leonor Mendes de Barro, de Barra do Chapéu, no Vale do Ribeira, com Ideb 7,1; e a nona é de Juquiá, a escola João Adorno Vassão, com 6,7.
Já a melhor escola da capital de 1ª a 4ª séries - a Emef Jackson de Figueiredo, localizada no Tatuapé, na zona leste da cidade - só aparece em 90º lugar no ranking geral das escolas municipais do Brasil, com Ideb 5,9. Para os pais dos alunos, a localização da escola, a atitude dos professores em sala de aula e a organização pedagógica da equipe fazem a diferença. Logo na porta da unidade, um muro reproduz quadros da pintora Tarsila do Amaral e caricaturas de cantores famosos, como Chico Buarque, recepcionam os estudantes. “Gosto tanto daqui que passo mais tempo na escola do que em casa”, disse a dona de casa Maria Ribeiro Casfikis, de 41 anos. Ela cursa Educação de Jovens e Adultos (EJA) na escola, onde também estudam seus dois filhos. Já a pior na capital foi a Emef Senador Milton Campos, da Brasilândia, na zona norte, cujo Ideb foi 2,8. No ranking geral das municipais ela aparece em 14.998º lugar.
MUDANÇAS
Para Vera Masagão Ribeiro, especialista em Educação da organização não-governamental Ação Educativa, não é surpresa a colocação das escolas públicas da capital no ranking nacional. “Nos últimos anos, a rede municipal de ensino da capital tem sofrido com as mudanças de gestão política. A cada novo governo, novos projetos são criados e a continuidade dos antigos não é priorizada.”
Outro fator apontado pela especialista é a mudança de secretário de Educação em uma mesma gestão. “Nos últimos governos, a pasta da Educação contou com mais de um secretário, o que também teve impacto na qualidade de ensino. Acredito que falta para a rede municipal de ensino uma boa política de valorização do professor, que reduza a rotatividade de profissionais e faça com que eles criem vínculos.”
Já Yves de La Taille, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), destaca que em uma rede menor é mais fácil obter melhor desempenho. “Em uma megalópole é mais difícil obter a interação entre a escola e os membros de sua comunidade, o que é importante para uma educação de qualidade. Já em cidades menores a relação se torna mais fácil. Mas é claro que temos exceções, como bairros periféricos, que também conseguem tal interação da escola e comunidade.”
Segundo Cláudio Fonseca, presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação do Município de São Paulo (Sinpeem), é preciso ter cautela ao fazer um ranking das escolas por meio de avaliações do Ministério da Educação. “O contexto socioeconômico que as escolas estão inseridas também tem impacto de forma direta na qualidade da educação oferecida.” A rede estadual de São Paulo fez a Prova Brasil por amostragem e não autorizou a divulgação dos dados. Por isso, constam 5.324 escolas estaduais, mas sem nota.
(COLABOROU MARCELA SPINOSA)
Paulistas participarão de avaliação neste ano
Renata Cafardo
A secretária estadual de Educação de São Paulo, Maria Lúcia Vasconcelos, garantiu que o Estado vai participar neste ano da Prova Brasil. Por decisão do ex-secretário Gabriel Chalita, apenas uma amostra dos alunos das mais de 5 mil escolas estaduais paulistas havia feito a prova do Ministério da Educação (MEC) em 2005. Por causa disso, São Paulo não figura em nenhuma lista dos novos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que será divulgado hoje. O indicador é feito a partir da nota na Prova Brasil.
“Vamos corrigir esse erro”, disse a secretária Maria Lúcia ao Estado. Ela acredita que os próximos rankings vão ter escolas paulistas bem colocadas. Ela lembra que São Paulo tem a maior rede estadual do País, com mais de 5.300 escolas e 5 milhões de alunos, o que dificulta um bom desempenho.
Segundo a secretária, o Estado vai continuar participando também do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), feito pelo MEC, mas que analisa alunos por amostragem em português e matemática, a cada dois anos. O Prova Brasil é universal, ou seja, tem a participação de todos os alunos de 4ª e 8ª séries nas mesmas duas disciplinas e acontece todo ano.
SARESP
São Paulo tem ainda uma prova própria, o Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), que também examina português e matemática. No ano passado, o exame havia sido cancelado. A secretaria alegou que o Estado não precisava gastar os R$ 9 milhões todo ano porque o MEC já realizava prova semelhante. Nesse ano, segundo Maria Lúcia, os alunos de São Paulo voltarão a fazer também o Saresp.
“Avaliações dão muita preocupação, mas também são muito eficientes”, diz a secretária. Segundo ela, o Estado vai ainda estipular uma expectativa mínima de aprendizagem para seus alunos, publicando os conteúdos que devem ser adquiridos em cada série. A partir disso, de acordo com a secretária, será mais fácil tonar úteis os resultados das avaliações.
5,9
foi a nota da escola municipal de ensino fundamental
Jackson de Figueiredo, na zona leste da capital. De acordo com a avaliação, apesar de ser a melhor da cidade de São Paulo, é
apenas a 90.ª do País
Para as 5 mil piores, atenção especial do MEC
Unidades com pior desempenho terão assessoria técnica do ministério e recursos extras
Lisandra Paraguassú, BRASÍLIA
As 5 mil escolas do País que apresentaram os piores Índices de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) devem receber atenção especial do Ministério da Educação (MEC). Da mesma forma que os municípios com mais problemas serão tratados, essas escolas terão um diagnóstico dos seus problemas feito pelo próprio MEC e recursos financeiros extras para investimento.
Serão R$ 30 milhões neste ano para as escolas urbanas, além de R$ 66 milhões para as escolas rurais, que já haviam sido reservados no Orçamento.
Cada escola com problemas terá direito a R$ 6 mil por ano para investimentos em infra-estrutura física, materiais pedagógicos e apoio metodológico. Para fazer o diagnóstico dos problemas de cada uma, o ministério vai revitalizar o Fundo de Desenvolvimento da Escola (Fundescola), um programa criado no governo de Fernando Henrique Cardoso que tem por objetivo melhorar a situação das unidades escolares.
Serão os especialistas do Fundescola os responsáveis pelos diagnósticos de cada uma, que irão trabalhar com equipes da própria escola e das secretarias estaduais e municipais de Educação. Um plano será desenhado e cada escola terá de descriminar como serão usados os recursos.
“As escolas vão receber um plano de apoio pedagógico e de infra-estrutura feito pelo Fundescola, que é um programa que vinha sendo desenvolvido em poucos municípios e foi aperfeiçoado e atualizado agora”, explica o ministro da Educação, Fernando Haddad.
De acordo com o ministro, não necessariamente as 5 mil escolas com piores resultados estão nos mil municípios também com piores Idebs, apesar de haver essa coincidência em muitos casos.
QUALIFICAÇÃO
Escolas que estejam nessas cidades receberão o atendimento dado ao sistema educacional também. No entanto, o ministério acredita que aquelas com problemas sérios de fluxo e qualidade da educação têm problemas específicos, que precisam ser atacados individualmente.
Um dos maiores problemas das escolas, no entanto, não deve entrar no programa, chamado de Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE-Escola): a falta de professores qualificados. Segundo o ministro, a qualificação e formação de professores ficará a cargo da Universidade Aberta do Brasil, um sistema de ensino a distância que pretende formar 2 milhões de docentes do ensino básico no Brasil. “Apenas no Piauí já tivemos 16 mil inscritos para 2,5 mil vagas”, conta.
A criação do PDE Escola foi assinada ontem, no Palácio do Planalto, durante uma cerimônia com diversos atos para educação. Entre eles, a abertura de um edital para produção de conteúdo digital, para servir de apoio aos professores da educação básica, e um concurso para produção de livros para pessoas recém-alfabetizadas.
SELO
Durante a cerimônia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda entregou o selo de Cidade Livre de Analfabetismo a 64 cidades com menos de 4% de analfabetos. Também foram homenageados 10 municípios com Ideb superior a 6 e 225 com Ideb maior do que 5. Além disso, os 20 estudantes que apresentaram os melhores resultados no Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade) receberam bolsas para sua pós-graduação.